Resenha Crítica: 3096 Dias

O mundo inteiro ficou ciente de um dos sequestros mais longos e chocantes da história. Estou falando do caso da menina que foi raptada aos dez anos e ficou em cativeiro por mais de oito, período em que foi submetida a quase todo tipo de violência física e psicológica.

Sinopse: Natascha Kampusch estava saindo de casa em direção à escola em um dia normal, quando foi raptada por um desconhecido, em plena luz do dia, num trecho aparentemente seguro próximo de casa. Foi na época em que Natascha começara a ir sozinha à escola, pois tinha recebido a permissão da mãe, o que seria o símbolo de sua maturidade. Mas Natascha estava bem preocupada com tantos casos de sequestro, violência sexual e assassinato contra crianças de sua idade, aos quais assistia pela televisão, embora ela mesma nunca se visse enquadrada ao estilo de meninas selecionadas para serem sequestradas. Então, apesar de sua tranquilidade por não ser o tipo comumente escolhido dos sequestradores, estava com um pé atrás, afinal, nesse mundo doido, quem poderia se dizer 100% seguro, não é mesmo? Mesmo assim, aproveitou sua "liberdade" e foi feliz para a escola, naquele dia fatídico, e uma caminhada tranquila de quinze minutos, entre o lar e a escola, tornou-se o início de uma vida que ela jamais havia incluído nem imaginado em seus planos.

Quando Natascha foi sequestrada, já estava vivenciando um período bem complicado de sua vida. Com problemas familiares bastante dramáticos: uma mãe intolerante, que não media suas palavras, nem sua força. Depois no cativeiro, um pequeno cubículo úmido, sujo e sem ventilação nem iluminação, cercado por uma grossa parede, bem escondida embaixo da casa, a pequena vítima tentava se conformar, acreditando que o sequestro, de certa forma, poderia ter sido uma solução para seus problemas, por mais paradoxal que isso possa parecer. Foi, certamente, uma tentativa desesperada pela sobrevivência. Apesar de o sequestrador, Wolfgang Priklopil, posteriormente ter permitido que Natascha saísse do cativeiro, não houve, de forma alguma, uma amenização de seu sofrimento, pois, à medida que o tempo passava e Natascha crescia, Priklopil aumentava sua agressividade e passava a machucá-la e exigir obediência com cada vez mais fúria, obsessão e descontrole.

Acredito que Natascha foi muito forte, pela maneira como se mostrou nos documentários e entrevistas que concedeu. O livro detalhou tudo o que passou no cativeiro, mas o leitor, por mais empático ao caso, não pode imaginar de fato o que se passou com ela, tamanha foi a violência por que passou. Um dos pontos que declara várias vezes em seu livro, 3096 Dias, foi que estava cansada de todos à sua volta insistirem em dizer que ela estava com um típico caso de Síndrome de Estocolmo, já que tentou justificar, em determinados momentos, a atitude de Priklopil. Afinal, como não adquirir determinada simpatia pela única pessoa com quem teve contato durante oito anos? Segundo seu relato no livro, ela nunca perdeu a consciência do que estava acontecendo com ela, pois relatava em um diário cada abuso que sofria.

O fim disso, todos conhecem: Natascha conseguiu fugir, em agosto de 2006, e o sequestrador se matou. Embora o livro relate que Natascha tenha se sentido aliviada com a morte de Priklopil, em uma matéria do G1, há a informação de que a polícia afirmou que ela chorou muito quando soube da morte de seu sequestrador.

Crítica: Se realmente foi Natascha que escreveu o relato, não sei dizer, pois teve a colaboração de duas escritoras, mas é, com certeza, um livro que vale a pena conhecer. Não simplesmente para matar a curiosidade, mas também para entender o que pode acontecer na mente do ser humano quando submetido aos mais violentos ataques contra a carne e o psicológico. Natascha passou um bom tempo lendo em seu cativeiro, o que, certamente a ajudou a adquirir uma boa escrita. Mesmo assim, o que mais chama a atenção não é a forma como ela relatou, mas sim a maneira magnífica que enfrentou seus piores terrores, com força, com esperança e uma maturidade que ela não teve chance de aprender com os outros, mas sozinha, com sua própria coragem.

Minha Nota: 9,0

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