Truman Capote derruba simplismo de jornais convencionais
O jornalista e escritor americano Truman Capote passou anos buscando informações para escrever uma reportagem completa, real e extremamente detalhista sobre o assassinato em massa da família Clutter, ocorrida em novembro de 1959, em Holcomb, uma pequena cidade do estado de Kansas, Estados Unidos da América. Entrevistou parentes das vítimas e dos assassinos, policiais, vizinhos e até mesmo, os próprios criminosos enquanto estavam no corredor da morte. Precisou de muito ‘sangue frio’ para desejar a execução de ambos com o objetivo de conseguir dar o desfecho cobiçado para a obra. O que mais tarde, segundo especuladores, foi um dos motivos que o levou a entrar em depressão e morrer.

O caso do assassinato, investigado e retratado na obra com os mínimos detalhes, tornou-se um renomado livro que rodou dezenas de países em praticamente todos os continentes. O livro-reportagem, considerado um exemplo a ser seguido por jornalistas e escritores, continua até hoje chocando leitores devido ao desastre real que acabou com o sonho daquela família. Mas também é admirado pela maneira como Capote buscou as informações de cada envolvido no caso.
Ao contrário do que fazem os repórteres convencionais, o escritor de A Sangue Frio lutou para encontrar o máximo de informações que conseguiu, demonstrando que, por trás de simples reportagens e fatos, é possível relatar uma história real, mas com qualidade de uma verdadeira obra literária.
Há quem diga que Capote não foi completamente fiel aos fatos. Apesar disso, relatou minuciosamente o que os assassinos fizeram com o casal Herbert e Bonnie e seus filhos Kenyon e Nancy, de forma a chocar intensamente o leitor. Além disso, levantou uma grande polêmica em torno do que deveria ser feito com os assassinos, que receberam a pena máxima pelo crime cometido contra a família.
Seja reportagem em forma de romance, seja puramente jornalismo do início ao fim, Capote se tornou o mestre do jornalismo literário e praticamente humilhou o jornalismo simplório e sem “gás” que se lê diariamente. Apesar de a história ter ficado demasiadamente chocante, evidenciando muitas desgraças e deixando o público leitor um pouco amedrontado e sem esperança, o livro é um exemplo de que os fatos simples e secos que enchem as páginas dos jornais não informam nada se comprado com os milhares de dados que podem ser encontrados. O livro deu também vazão para uma antiga, mas ainda pouco explorada área do jornalismo, o literário, que pode, claro, ser utilizado de inúmeras maneiras diferentes, além dos relatos deprimentes e sanguinários.
Essa é uma leitura obrigatória para estudantes de jornalismo que esperam ser mais do que os meros repórteres e redatores que desejam buscar e escrever sobre meia dúzia de informações, e ainda assim creem piamente que estão de fato informando. Foi uma das obras que deram origem ao gênero. E fez surgir um novo modo de contar fatos, estimulando os novos jornalistas a, não necessariamente escrever um livro para cada grande fato ocorrido, mas pelo menos, buscar uma gama maior e mais importante de fatos para levar ao público. Não fosse pelo excesso de termos vulgares, certamente teria me agradado muito mais. Mas descartando-os, o livro é um tesouro da literatura.
Minha Nota: 8,0
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